Como aumentar a imunidade do bebê  

 

            

                                                                           

Como aumentar a imunidade do bebê

 

No último trimestre de gestação, a mãe que se cuidou, tomou as vacinas recomendadas e se alimentou de forma equilibrada vai passar uma provisão de anticorpos para o bebê. O aleitamento exclusivo também injeta no organismo do bebê milhões de glóbulos brancos, a principal célula de defesa do nosso corpo, além de muitos nutrientes. Depois, as primeiras vacinas proporcionam chances maiores de o sistema de defesa fabricar anticorpos contra os agentes infecciosos. Mesmo com todos esses cuidados, toda criança tem um sistema imunológico imaturo, principalmente até os dois anos de idade. Por isso, é preciso cuidar de sua imunidade, a fim de não sobrecarregar seu organismo, ao mesmo tempo que não é aconselhável colocá-la numa redoma, pois, dessa forma, ela não terá como construir suas defesas. Para solucionar esta equação, conversamos com o pediatra Antônio Carlos Pastorino, membro do Departamento Científico de Alergia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

 

É sabido que o bebê nasce com deficiente sistema imunológico. A partir de quando, a imunidade começa a ficar mais fortalecida?

A criança nasce com a imunidade imatura. Porém, próximo de um ano de vida, ela já consegue se defender melhor, mas ainda requer muito cuidado. É por isso que os pediatras recomendam ficar longe da creche e da escola até os dois anos de idade, a fim de protegê-la de um ambiente povoado de vírus. Sabemos que, com o ritmo de vida atual, não é nada fácil, mas se a família puder evitar, é o ideal.

E quando a criança entra na creche ou escola e fica doente repetidamente?

O pediatra precisa analisar caso a caso, mas quando isso acontece a orientação pode ser a retirada o bebê da escolinha até a imunidade amadurecer um pouco mais. Ela aumenta conforme o crescimento da criança e as vacinas, ao longo da infância, ajudam na sua proteção. Algumas vão ficar com a imunidade bem fortalecida aos 4 anos, outras completam essa maturação aos 10 anos de idade.

Quais são as doenças mais comuns ligadas ao sistema imunológico?

Todas as doenças estão relacionadas com a nossa imunidade, porém pode se afirmar que, em termos de doenças infecciosas, as mais comuns são os quadros virais na faixa de até os dois anos. Os pais dos pacientes ficam até um pouco irritados com o diagnóstico da virose. O fato é que 90% das doenças na faixa inicial da vida é proveniente de vírus. No inverno, os mais comuns são o rinovírus (resfriado comum) e o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), responsável pela bronquiolite e que pode levar o bebê à UTI. Geralmente, uma criança apresenta entre três a sete quadros virais simples por ano. Cuidados básicos, como deixá-la longe de pessoas gripadas e sempre ter o cuidado de limpar e esterilizar tudo que vai à boca, como mamadeiras, chupetas, copos e brinquedos de outras crianças doentes, devem ser feitos com frequência.

 

Ainda em relação às doenças, por que a gente ouve que o antibiótico acaba com a imunidade?

Porque ele mata a flora boa e a ruim, mudando toda a microbiota e, consequentemente, a imunidade fica desregulada. Ao tomar antibiótico sem necessidade, não damos a chance de o organismo combater os agentes ruins. Por isso, em caso de febre com um bom estado geral, melhor não levar a criança nas primeiras 12 a 24 horas ao pronto-socorro. Nesse caso, deve-se ligar ou levar ao pediatra. É muito comum a criança acabar tomando antibiótico à toa, quando vai ao pronto-socorro. A febre é apenas uma resposta imunológica do organismo contra determinado agressor, seja ele viral ou bacteriano.

 

Um livro nos Estados Unidos Let Them Eat Dirt: Saving Your Child from an Oversanitized World (Deixe que Eles Comam Terra: Salvando seus Filhos de um Mundo Hiper-Higienizado, em tradução livre) defende que a sujeira tem o seu papel e os pais não devem superproteger o bebê. Como dosar isso?

Nessa questão, a palavra-chave é bom-senso. Tanto não pode haver exageros e nem permissividade em relação à limpeza. O sistema imunológico da criança nasce indefeso e amadurece com o tempo e à medida que a criança entra em contato com vírus e bactérias. Ou seja, ela precisa estar exposta de maneira controlada, para ir aos poucos conquistando mais imunidade. Para criar memória imunológica, é preciso ter um primeiro contato. Na segunda vez que o organismo tiver contato com o mesmo agente invasor, o corpo já vai responder mais rápido, e assim sucessivamente. Resumindo, é preciso proteger o bebê da sujeira, mas não colocá-lo numa redoma.

Ou seja, a mãe não precisa se estressar tanto, principalmente dentro de casa?

Não. E realmente os pais de primeira viagem costumam se preocupar muito com esta questão, alguns até exageram. É necessário limpar o chão para o bebê engatinhar? Sim, mas logo em seguida o local estará cheio de bactérias novamente. Inclusive, o nosso corpo está cheio de bactérias o tempo todo. O importante é lavar as mãos frequentemente. Essa é a melhor forma de evitar infecções e evitar uma doença.

E as praças e os parquinhos, pode brincar na areia?

Depende das condições do local. Na creche, a areia provavelmente é tratada. Agora, a areia do parque pode estar contaminada de fezes de gato ou de outros animais, por exemplo. É preciso ficar de olho nas mãos e lavá-las ao final da brincadeira. Basta uma higiene simples, com sabão comum, sem necessidade de sabonetes antibacteriano. O importante é não ficar neurótico com o assunto.

O mesmo pode se dizer do contato com cachorros. Uma pesquisa americana aponta que, quanto mais cedo o bebê tiver o contato com o cachorro, muito menos chances tem de desenvolver uma alergia. É isso mesmo?

Sim, até o contato da grávida com cachorro ou gato pode beneficiar o bebê, pois a mãe vai formar uma flora, que vai ser passada para o feto. O mesmo vale para os bebês. Aqueles que não tiveram contato com cachorro precocemente têm mais chances de desenvolver alergias do que um que sempre teve contato com animais. No entanto, isso é benéfico quando o cachorro é vacinado e tratado. É bom tentar evitar uma lambida antes de tomar as principais vacinas, mas, se lambeu, lavar e pronto.

 

Outro ponto polêmico, que recentemente teve muita repercussão na internet: alguns pais dão uma lambida na chupeta – que caiu ao chão, e devolvem para a criança.

É preferível lavar em água corrente, mas esse é um hábito antigo, que tem um certo sentido. Quando o pai ou mãe chupam a chupeta, com a intenção de limpá-la do chão, eles estão colocando um pouco da sua imunidade no acessório. O certo é chegar em casa e esterilizar a chupeta, porque, mesmo em água corrente, vai sair apenas o grosso das bactérias. É preciso colocar o produto numa solução estéril para limpá-la de tempos em tempos.

Além das vacinas, o que pode ser feito para aumentar a imunidade do bebê?

Ter uma microbiota saudável. Em outras palavras, manter uma alimentação adequada e não exagerar nos antibióticos, pois desregulam a flora. Evitar alimentos industrializados, comer bastante verduras, legumes e frutas, algumas delas com cascas, pois as fibras promovem uma microflora adequada. Basta ter o cuidado de higienizá-las corretamente. Na gestação, a mulher deve cuidar da alimentação, a fim de formar uma boa flora, pois será passada ao bebê ao longo dos nove meses e durante o parto natural e a amamentação.


Fonte: Antônio Carlos Pastorino, pediatra e membro do Departamento Científico de Alergia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Pós-graduado em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), Chefe da Unidade de Alergia e Imunologia do Departamento de Pediatria da USP, São Paulo.