Usar ou Não Suplementos Vitamínicos?  

sexta-feira, 07 de março de 2014

 

Vale realmente a pena usar suplementos vitamínicos e minerais para a prevenção de doenças e redução da mortalidade?

 
 
+1 Em edição recente do periódico Annals of Internal Medicine foram publicados três artigos que abordam o papel dos suplementos vitamínicos e minerais na prevenção da ocorrência ou da progressão de doenças crônicas. As evidências disponíveis não descartam pequenos benefícios ou prejuízos ou grandes benefícios ou malefícios em um pequeno subgrupo da população, mas os autores acreditam que a suplementação1 da dieta de adultos bem nutridos com suplementos vitamínicos ou minerais não tem benefício claro e pode até ser prejudicial à saúde2.
1 Suplementação: Que serve de suplemento para suprir o que falta, que completa ou amplia.
2 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital.
2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar.
3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém.
4. Força física; robustez, vigor, energia.
Annals of Internal Medicine: vale realmente a pena usar suplementos vitamínicos e minerais para a prevenção de doenças e redução da mortalidade?

Em edição recente do periódico Annals of Internal Medicine foram publicados três artigos que abordam o papel dos suplementos vitamínicos e minerais na prevenção da ocorrência ou da progressão de doenças crônicas. As evidências disponíveis não descartam pequenos benefícios ou prejuízos ou grandes benefícios ou malefícios em um pequeno subgrupo da população, mas os autores acreditam que a suplementação1 da dieta de adultos bem nutridos com suplementos vitamínicos ou minerais não tem benefício claro e pode até ser prejudicial à saúde2.

No primeiro artigo, Fortmann e colegas revisaram sistematicamente as evidências experimentais para atualizar a recomendação do U.S. Preventive Services Task Force sobre a eficácia dos suplementos vitamínicos para a prevenção primária em adultos residentes na comunidade e sem deficiências nutricionais. Depois de analisar três ensaios de suplementos vitamínicos e 24 ensaios de vitaminas simples ou emparelhados que aleatoriamente contaram com a participação de 400.000 participantes, os autores concluíram que não havia nenhuma evidência clara de um efeito benéfico dos suplementos sobre a mortalidade3 por qualquer causa, doença cardiovascular ou câncer4.

No segundo artigo, Grodstein e colaboradores avaliaram a eficácia de um multivitamínico usado diariamente para evitar o declínio cognitivo5 entre 5.947 homens com idade de 65 anos ou mais, participantes do estudo Physicians’ Health Study II. Após 12 anos de acompanhamento, não houve diferenças entre os grupos que receberam multivitaminas ou placebo6 no desempenho cognitivo7 global ou na memória verbal. A adesão à intervenção foi alta e o grande tamanho da amostra resultou em estimativas precisas que mostram que o uso de um suplemento multivitamínico em uma população idosa, bem nutrida, não impediu o declínio cognitivo5. Os resultados encontrados por Grodstein e colaboradores são compatíveis com uma revisão recente de 12 ensaios clínicos8 de boa qualidade que avaliaram suplementos alimentares, incluindo multivitamínicos, vitaminas do complexo B, vitaminas E e C e ômega-3 em pessoas com leve comprometimento cognitivo5 ou demência9 leve a moderada. Nenhum dos suplementos melhorou a função cognitiva10.

No terceiro artigo, Lamas e associados avaliaram os benefícios potenciais de uma alta dose de um suplemento multivitamínico contendo 28 componentes, usado por 1.708 homens e mulheres com infarto do miocárdio11 prévio participando do ensaio clínico TACT (Trial to Assess Chelation Therapy). Após um seguimento médio de 4,6 anos, não houve diferença significativa na recorrência12 de eventos cardiovasculares recorrentes como uso das multivitaminas em comparação com o placebo6. O estudo foi limitado pelas altas taxas de não aderência e abandono.

Outras revisões e protocolos clínicos que avaliaram o papel dos suplementos vitamínicos e minerais na prevenção primária ou secundária de doenças crônicas têm consistentemente encontrado resultados nulos ou possíveis danos. Evidências envolvendo milhares de pessoas em muitos ensaios clínicos8 mostram que β-caroteno, vitamina13 E, e, possivelmente, altas doses de suplementos de vitamina13 A aumentam a mortalidade3 e que outros antioxidantes, ácido fólico, vitaminas do complexo B e suplementos multivitamínicos não têm nenhum benefício claro.

O uso de suplementos vitamínicos tem aumentado entre os adultos norte-americanos de 30% entre 1988-1994 para 39% entre 2003 a 2006, enquanto o uso geral de suplementos dietéticos aumentou de 42% para 53%. Tendências mostram um aumento constante no uso de suplemento multivitamínico e um declínio no uso de alguns suplementos individuais, tais como β-caroteno e vitamina13 E. O declínio no uso de β-caroteno e suplementos de vitamina13 E seguiram relatos de resultados adversos no câncer4 de pulmão14 e na mortalidade3 por todas as causas, respectivamente. Em contraste, as vendas de polivitamínicos e outros suplementos não foram afetados por grandes estudos com resultados nulos, e a indústria de suplementos nos EUA continua a crescer, chegando a US$ 28 bilhões em vendas anuais em 2010. Tendências semelhantes foram observadas no Reino Unido e em outros países europeus.

As evidências acumuladas têm importantes implicações clínicas e de saúde2 pública e são suficientes para desaconselhar a suplementação1 de rotina. A mensagem é simples: a maioria dos suplementos não previne doença crônica ou morte, o seu uso não se justifica, e eles devem ser evitados. Esta mensagem é especialmente verdadeira para a população em geral, sem evidência clara de deficiências de micronutrientes15, que representam a maioria dos usuários de suplementos nos Estados Unidos e em outros países.

As evidências também têm implicações para a pesquisa. Os antioxidantes, ácido fólico e vitaminas do complexo B são prejudiciais ou ineficazes para a prevenção de doenças crônicas, e novos ensaios clínicos8 de prevenção já não se justificam. A suplementação1 de vitamina13 D, no entanto, é uma área aberta para investigação, particularmente em pessoas com deficiência. Os ensaios clínicos8 têm sido equivocados e por vezes contraditórios. Embora estudos futuros sejam necessários para esclarecer o uso adequado de suplementação1 de vitamina13 D, o uso disseminado atualmente não é baseado em evidências sólidas de que os benefícios superam os danos.

Com relação às multivitaminas, os estudos publicados nesta edição e estudos anteriores indicam que não há benefício substancial para a saúde2. Esta evidência, combinada a considerações biológicas, sugere que qualquer efeito, quer benéfico ou prejudicial, é provavelmente pequeno.

Em conclusão, β-caroteno, vitamina13 E, e, possivelmente, altas doses de suplementos de vitamina13 A são prejudiciais. Outros antioxidantes, ácido fólico e vitaminas B e suplementos multivitamínicos e minerais são ineficazes para prevenir a mortalidade3 ou morbidade16 por doenças crônicas. Embora as evidências disponíveis não descartem pequenos benefícios ou prejuízos ou grandes benefícios ou malefícios em um pequeno subgrupo da população, os autores acreditam que a suplementação1 da dieta de adultos bem nutridos com suplementos vitamínicos e minerais não tem benefício claro e pode até ser prejudicial. Estas vitaminas não devem ser utilizadas para a prevenção de doenças crônicas.

Fonte: Annals of Internal Medicine, volume 159, número 12, de 17 de dezembro de 2013